Encarecimento da energia lidera alta de 1,95% do IPCA no mês; índice vai a 8,35% em 12 meses, acima do limite de 5,25%
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) perdeu fôlego em junho ao registrar alta de 0,53%, ante avanço de 0,83% em maio, segundo números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 8. O resultado faz o indicador oficial da inflação brasileira acumular alta de 8,35% em 12 meses, acima do teto de 5,25% da meta perseguida pelo Banco Central, com centro de 3,75% e piso de 2,25%. No ano, a inflação acumula alta de 3,77%. Em junho de 2020, o índice registrou crescimento de 0,26%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), visto como a inflação dos mais pobres, avançou 0,60%, abaixo da taxa de 0,96% registrada em abril. O indicador, que também é usado como referência para reajustes do salário mínimo e benefícios do INSS, acumula, no ano, alta de 3,95%, e de 9,22% em 12 meses.
O aumento de 1,95% da energia elétrica foi o maior impacto individual do mês. O setor já havia liderado o IPCA de maio ao registrar alta de 5,37%. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) impôs a bandeira vermelha patamar 2 a partir de junho. A mudança acrescentou R$ 6,243 para cada 100 quilowatts/hora (kWh) consumidos. No fim do mês passado, a instituição aprovou o aumento de 52% na taxa extra da conta de luz a partir deste mês, com o aumento da tarifa da bandeira vermelha nível 2 para R$ 9,49 a cada 100 kWh. O novo patamar deve seguir até o fim do ano em meio a pior crise hídrica do país em 91 anos. “A energia continuou subindo muito por conta da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que passou a vigorar em junho. Em maio, estava em vigor a bandeira vermelha patamar 1, cujo acréscimo é menor (R$ 4,169). Os preços, porém, desaceleraram em junho devido aos diversos reajustes captados em maio nas áreas pesquisadas. Em junho, tivemos apenas o reajuste médio de 8,97%, em Curitiba, no fim do mês”, explica o analista da pesquisa, André Filipe Guedes Almeida. O grupo de alimentação e bebidas também voltou a pressionar a inflação. Alimentação no domicílio passou de 0,23% em maio para 0,33% em junho, principalmente por conta da alta no preço das carnes (1,32%), que subiram pelo quinto mês consecutivo. Em seguida vem o grupo de transportes, puxado pelos combustíveis. A gasolina registrou aumento de 0,69%, contra avanço de 2,87% em maio. A Petrobras reajustou de uma única vez os preços da gasolina e diesel cobrados na refinaria.
O Banco Central já abandonou a expectativa de fechar 2021 abaixo do teto da meta. A estimativa publicada no relatório da inflação do segundo trimestre aponta para avanço de 5,8% diante do encarecimento das commodities e da recente pressão da energia elétrica. Segundo o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, a inflação se disseminou pela cadeia econômica, mas as pressões ainda possuem natureza temporária. A previsão do BC está abaixo do estimado pelo mercado financeiro. Dados do Boletim Focus divulgados nesta semana mostram a revisão da expectativa para 6,07%, a 13ª alteração para cima do IPCA. O avanço da inflação deve pressionar por um aumento mais incisivo da Selic. A taxa básica de juros foi elevada a 4,25% em junho ao receber mais 0,75 ponto percentual. O Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que deve aplicar uma dose da mesma proporção no encontro de agosto, mas não descartou um acréscimo superior, estimado pelos analistas em 1 ponto percentual. O mercado estima que a Selic encerrará o ano a 6,5%, valor considerado neutro, ou seja, não estimula nem prejudica a atividade econômica.